A FAZENDA: MEU TIO NONÔ DEPOIS QUE VEIO DA GUERRA

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

MEU TIO NONÔ DEPOIS QUE VEIO DA GUERRA





Tem um tio meu, irmão do meu pai, que eu e meus irmãos o chamamos de "Tio Nonô". Ele mora na casa de minha tia, aquela onde a gente vai ver televisão, mas não é o marido dela, eh irmão dela também. Ele fica em um pequeno quartinho que tem na casa dessa nossa tia. Eh um quartinho nos fundos da casa, mas não eh separado da casa. Este meu tio foi na guerra, mas teve que voltar antes da guerra acabar porque ele ficou doente.




Quando ele chegou de volta na casa da minha tia, ele não conseguia mais andar, movimentava os braços e o pescoço com dificuldades e ficava quase todo o tempo sentado ou na cama ou em uma cadeira que foi feita para ele. Meus pais disseram que ele tinha ficado entrevado.
Meus irmãos mais velhos vão muito na casa de minha tia jogar baralho com meu Tio Nonô. Ele gosta muito de jogar baralho e de fumar.


Fica o dia todo jogando baralho e se diverte muito com isso. Sempre tem alguém na casa da minha tia para jogar baralho com meu tio. 
Algumas vezes eu vou até a casa da minha tia falar com meu Tio Nonô. Quando eu vou na casa da minha tia falar com meu Tio Nonô, ela não importa que eu entre na casa dela, mas desde que eu fique só no quarto do meu tio. Geralmente eu vou lá depois que eu apanho do meu pai. Meu pai eh muito bravo e bate muito em mim, e quando ele bate na gente, bate para machucar. Assim, depois de ficar um tempo debaixo da mesa, em minha cama, vou até a casa de minha tia conversar com meu tio Nonô, mas só posso fazer isso se não tiver ninguém jogando baralho com ele.


Se tiver alguém jogando baralho com ele, minha tia já me fala que eu não posso ir até o quarto dele e volto pra casa. Meu tio gosta quando eu vou lá conversar com ele. Eu ajudo a colocar o cigarro em sua boca, acendo o cigarro, coisas que ele sempre precisa da ajuda de alguém. Mas ele diz que gosta de falar comigo porque eu sempre procuro ele depois que apanho de meu pai, como se ele fosse a pessoa em que eu confiava para falar o que sentia. O que eh verdade, porque para ele eu sempre conto tudo que acontece comigo.
Desta última vez que apanhe do meu pai e fui falar com meu tio, perguntei a ele se sabia o motivo pelo qual meu pai não gostava de mim. Porque para meu pai eu sempre estava errado em tudo que fazia. Se eu falasse qualquer coisa perto do meu pai, ele mandava eu calar a boca, podia ser o que for, eu nunca devia abrir a boca não opinião do meu pai. Meu Tio Nonô como sempre defende meu pai. Dizendo que embora ele tivesse o "estopim curto" ele trabalhava muito, tinha dificuldades de criar tantos filhos.


Por isso eu devia esquecer a ideia de que meu pai não gostava de mim, pois ele gostava de todos iguais. Mas eu não via assim e disse para meu tio que estava achando que nem era filho dele. Meu tio ficou bravo comigo e disse para eu nunca mais devia pensar isso, que era um absurdo e não era verdade. Eu disse "tá" para ele fiquei sentado na cadeira ao lado dele de cabeça baixa. Depois de um tempo de silêncio entre nós, meu tio pediu para eu olhar para ele e me disse: Olha, você está crescendo e a medida que for crescendo as coisas vão mudando para melhor.


Pode ter certeza, um dia você vai ter saudades de sua infância e estará disposto a dar tudo que tiver para voltar este tempo. Eu respondi dizendo que nunca ia querer ser criança novamente. Meu tio então disse: "Ha vai, um dia você vai querer ser criança novamente quando descobrir que poderia ter feito tudo diferente e melhor. Mas acredite, não existe uma segunda chance pra ninguém.


Então menino, não deixe que a vida faça você se arrepender. Eu sorri para meu tio e disse que ia embora, mas voltaria outro dia. Mas aquele dia foi o último dia que conversei com meu Tio Nonô, aquele meu tio que veio da guerra e ficou sendo meu melhor amigo, pena que por tão pouco tempo.

Texto: Thymonthy Becker 



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