A PROFESSORA DE CIÊNCIAS
Trabalhando na plantação de trigo nem sempre eu podia estar a beira da estrada da cidade que margeia a fazenda. Mas sempre que fosse possível eu ia até o local onde vi aquela mulher que vinha pela estrada, para tentar vê-la novamente. Em uma destas tentativas encontrei com esta mulher novamente e sim, conversamos.
Ela me cumprimentou o que me deixou meio sem jeito e com um pouco de vergonha, mas totalmente encantado com seu jeito e sua beleza. Conversando, ela me disse que era professora de ciências na escola da cidade e dava aulas para os meninos do ensino fundamental até a 4ª série. Disse que não era deste estado do país e que tinha chegado até ali em busca de uma vida melhor do que a que vivia em sua cidade natal.
Eu não tinha muita coisa pra dizer de mim, mas disse tudo que sabia de minha vida.
Que eu tinha nascido na fazenda, não na fazenda, mas na fazenda. Que sempre morei ali e nunca sai da fazenda porque eu não podia atravessar a cerca da fazenda. Disse a ela que dentro da fazenda tem sala que eh como se fosse a sala de aula e era lá que eu estudava. Somente eu estudo nesta escola da fazenda porque todas as outras pessoas que estão estudando vão para a escola na cidade. E que a minha professora também morava na fazenda, na fazenda mesmo, e ela dava aula de todas as matérias pra mim inclusive de ciências.
Eu ainda falava quando ela me interrompeu.
__Você mora na fazenda, mas não mora na fazenda, mas na fazenda, como assim? Não entendi. - Falou isso sorrindo.
__Eu moro aqui na fazenda, mas não moro lá na fazenda, mas na fazenda.
Ela sorriu novamente, balançou a cabeça como estivesse negando alguma coisa e perguntou:
__Porque você não pode sair da fazenda?
__Eu não sei por que, tem que perguntar para o meu pai. Eu já perguntei a ele, mas ele sempre fala que eh para o meu próprio bem e que eh para mim nunca tentar sair.
__Você não acha muito estranho isso não?
__Não.
Ela então disse que precisava ir embora, mas queria me encontrar novamente porque tinha gostado de conversar comigo. Ela disse que passaria ali na estrada todos os dias mais ou menos no mesmo horário. Disse a ela que nem sempre eu podia ir ali, mas faria de tudo para ir vê-la novamente. Ela disse que ia gostar muito de voltar a conversar comigo. Ela me deu thyal e foi indo embora. Eu fiquei olhando ela indo embora pela estrada já querendo vê-la novamente. Enquanto eu estava debruçado no mourão da cerca olhando ela fazer a curva da estrada, meu colega de serviço chegou me chamando para trabalhar e perguntando o que eu fazia ali.
Não quis falar com ele sobre a professora com quem estava conversando, apenas disse que não estava fazendo nada, só olhando a estrada. Ele me então ficou sério e disse:
__Não está tentando pular a cerca não né? Você sabe que não pode sair de dentro da fazenda, ainda mais sair para uma estrada.
__To não, estava só olhando os passarinhos que estavam pousados na estrada, mas já foram embora.
__Então vamos, porque tem muita coisa ainda pra gente fazer.
Sai dali e voltei para meu trabalho nos trigais, mas sem deixar de pensar naquela professora que para mim, era a mulher mais bonita que eu já tinha visto.
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