A FAZENDA: A PONTINHA

domingo, 25 de agosto de 2019

A PONTINHA





Meu pai gosta de jogar um jogo que se chama "Jogo de Malha". Eh um jogo parecido com boliche, onde a gente joga um contra outro, mas só tem um pino no centro de um círculo de cada lado. E o que eles jogam para derrubar este pino eh um disco redondo feito de ferro. Este disco que eles chamam de "malha". Quase todos os domingos meu pai vai até um bairro vizinho onde as pessoas que moram lá fizeram um campo para jogar malha.



Para sair do nosso bairro e ir para este bairro vizinho a gente tem que ir na cidade ou passar por um pontilhão, que chamamos de pontinha. Essa pontinha esta em construção e são os moradores da nossa Vila Operária que estão construindo com a ajuda da empresa onde meu pai trabalha. Ainda não colocaram o concreto para fazer a pontinha, nem tem a proteção dos lados, mas colocaram tábua para que as pessoas já pudessem atravessar.

Eh muito arriscado passar ali, porque não tem onde segurar. Essa pontinha eh muito comprida, porque o rio que contorna nossa Vila eh muito largo e no centro a correnteza eh muito forte. Essas tábuas que colocaram estão soltas e não são muito largas. Então, quando pisamos em cima delas, elas ficam se mexendo por não serem totalmente planas. Eu não passo ali sozinho porque tenho medo de cair no rio.
Campo de malha
Quando meu pai vai jogar malha e geralmente eh domingo de manhã, ele só vai por essa pontinha. E quando ele vai sempre leva três ou quatro filhos. Não gosto quando ele me diz para ir com ele, porque tenho medo de passar nessa pontinha. As primeiras vezes eu ia bem junto ao meu pai ou algum irmão meu, mas depois eles foram me deixando para trás. Tinha que correr para ficar junto deles antes que cheguem nesta pontinha.

Desta vez, meu pai e meus irmãos chegaram na pontinha antes de mim, que mesmo correndo quando cheguei no início da pontinha, meu pai já estava lá no meio dela. Meu pai olhou para trás e disse: Vem logo!
Eu comecei a andar pela pontinha bem devagar, mas quando fui afastando da beirada, não tive coragem de ir e voltei pra casa. Fui indo embora calmamente como sempre faço. Quando cheguei em casa minha mãe quis saber porque voltei e se eu tinha falado com meu pai que ia voltar.


Contei para minha mãe o motivo e disse que não tinha falado nada porque meu pai já estava longe. Minha mãe já ficou nervosa e disse que se meu pai não me ver lá vai ficar achando que caí no rio e quando te ver aqui tenho até medo do que ele pode fazer. Minha mãe chamou um irmão meu para ir até meu pai falar com ele que eu tinha voltado. Quando meu irmão chegou no rio meu pai e meus irmãos já estavam chegando do outro lado. Meu pai correndo na beira do rio e gritando meu nome. Meu irmão, que minha mãe mandou ir ao encontro deles gritou dizendo que eu tinha voltado e estava em casa.


Meu pai voltou pra casa furioso. Eu estava debaixo da mesa. Meu pai me puxou pelo pé, me colou de pé e começou a me bater e me xingar. Minha mãe pediu para ele parar, mas ele continuou batendo e disse pra minha mãe: Achei que essa praga tinha caído no rio. Depois que me bateu bastante disse que ia voltar para jogar malha e que eu ia com ele. Minha mãe pediu para ele me deixar em casa, mas ele disse que eu ia nem que fosse amarrado.
(A pontinha depois de pronta)
Meu pai pegou uma corda que ele usa para pescar. Achei que ele ia me batendo com essa corda, mas ele levou a corda na mão e ia me dando tapas na nuca me mandando andar depressa. Quando fui atravessar a pontinha ele continuou me dando tapas na nuca e dizendo para eu virar homem e deixar de ter medo, porque homem não tem medo de nada. Com medo de cair da ponte e apanhando do meu pai, atravessei a pontinha e chegamos ao campo de malha.

Meu pai me arrastou até uma árvore de muitas que tem em volta deste campo de malha, amarrou uma ponta da corda em volta desta árvore e a outra ponta no meu tornozelo. Deu muitos no na corda que amarrou no meu tornozelo. Virou pra mim e disse: Quero ver você ir embora agora seu sem vergonha. Saiu e foi jogar malha. Os amigos do meu pai não gostaram de me ver amarrado e reclamaram com meu pai dizendo que era para ele me desamarrar. Meu pai contou para eles o que tinha acontecido e disse que eu ia ficar amarrado ali. Meus irmãos riram muito de me ver amarrado.


Os meninos que as outras pessoas que vieram jogar malha trouxeram, também riram muito de me ver amarrado. Fiquei sentado no chão, com os joelhos pra cima e a cabeça entre os joelhos para que ninguém visse meu rosto e assim eu não passava vergonha. Depois de um tempo alguns meninos começaram a sentar perto de mim e tentaram conversar comigo, mas eu não levantava a cabeça. Passou mais um tempo e todos os meninos já estavam sentados ali onde eu estava. Fui levantando a cabeça aos pouquinhos e pouco tempo depois já estavam conversando com todos eles.
Nenhum dos meninos falou sobre eu estar amarrado e eu já não me sentia preso ali no meio deles. Já na hora do almoço, os jogadores de malha iam indo embora a medida que não iam jogar mais. Meu pai e meu tio que estava lá também foram os últimos a irem embora. Meu pai desamarrou a corda da árvore e para desfazer os no da corda em meu tornozelo estava difícil.


Então ele pegou um canivete com meu tio e cortou a corda rente ao ultimo nó e disse que em casa tirava o restante. Fomos embora, eu com o pedaço da corda no pé, mas meu pai não me deixou ficar para trás até que chegamos em casa. Eu não pedi meu pai para tirar a corda do meu tornozelo, porque fiquei com medo dele me xingar novamente. Quem tirou a corda foi meu irmão mais velho e ele precisou usar a faca para tirar a corda amarrada no meu tornozelo.


Textos e fotos: Thymonthy Becker (Pwalwer Kkall)




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