A FAZENDA: A TRAVESSIA

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

A TRAVESSIA





Meu pai sempre gostou de pescar. Às vezes vai pescar no rio que contorna nosso bairro aqui no bairro mesmo, mas a maioria das vezes ele vai a lugares afastados daqui. Na maioria de suas pescarias ele leva um filho ou dois. Como minha mãe não tinha encomendas de salgados para sábado, ele disse que sairia para pescar sábado de manhã e que eu iria com ele. Meu irmão mais velho também.

 



Como a gente ia a pé, Saímos bem de manhã para um lugar que meu pai já tinha pescado lá outras vezes e que ele chama de 48. Este lugar fica, para meu pai e meu irmão, não muito longe de nossa casa, mas para mim, eh muito longe. O rio eh o mesmo que da contorno ao nosso bairro. Para se chegar ao 48 nós fomos por uma estradinha de terra que acompanha a linha do trem. Não tinha subida nem descida, mas mesmo assim eu ando muito lentamente e paro para ver tudo que eu acho legal.

Com isso meu pai foi se distanciando, porque segundo ele eu estava atrasando a pescaria dele, e deixou meu irmão para vir comigo. O lugar que meu pai gosta de pescar fica do outro lado do rio, então a gente tinha que atravessar o rio. Meu pai eh um ótimo nadador e meu irmão também. Então meu pai indo na frente pediu para meu irmão me atravessar no rio. Quando chegamos onde tinha que atravessar o rio, meu irmão me colocou nos ombros dele para atravessar comigo nadando.

Eu não sei nadar e então, com medo de cair na água, agarrei no pescoço do meu irmão que foi comigo nadando. O rio eh bem largo e no meio dele tem uma correnteza bem forte. Quando chegou nesta correnteza, meu irmão não deu conta de passar por ela e começou a afundar. Eu não soltava o pescoço de meu irmão e fomos afundando juntos. Meu irmão no desespero me arrancou de cima de seus ombros e me soltou no rio e foi se salvar.
Por sorte minha, meu pai acreditando que meu irmão não daria conta de passar comigo nadando ali, voltou e chegou na hora que meu irmão me tirou de cima dele me jogando no rio. Meu irmão conseguiu sair nadando do outro lado, mas eu fui levado pelo rio. Meu pai, que vinha correndo, pulou no rio e só saiu de lá quando conseguiu me pegar. Ele me tirou do rio, mas eu já não respirava.

Desesperado, meu pai fez massagens no meu peito e respiração boca a boca, conseguindo me reanimar, fazendo com que eu colocasse toda a água que engoli para fora. Ficamos sentados ali um tempo até que eu me sentisse melhor. Claro que meu pai não foi pescar. Me colocou em seus ombros, o que eu não queria de jeito nenhum por medo de afogar novamente, mas ele ameaçou me bater se eu não ficasse quieto e então atravessou comigo.

Voltamos pra casa. Fui devagar como sempre costumo andar, mas meu pai não foi na frente desta vez, ele e meu irmão andaram tão devagar quanto eu. Meu pai nunca mais me levou para pescar no 48.

Texto / fotos: Thymonthy Becker (Pwalwer Kkall)




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