A FAZENDA: EU, E OS PASSARINHOS DO MEU PAI

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

EU, E OS PASSARINHOS DO MEU PAI





Meu pai cria passarinhos. Ele tem várias gaiolas com vários passarinhos diferentes. Acho que ele vende passarinhos. Quem limpa as gaiolas e coloca comida para os passarinhos são meus irmãos. Eles sempre reclamam, pois ficam mais de uma hora para limpar todas as gaiolas.



Meu pai disse que não posso limpar as gaiolas sozinho, mas tenho que ajudar meus irmãos. Essas gaiolas ficam debaixo de uma coberta que tem no fundo do terreiro. Essas gaiolas são limpas sempre de manhã. Hoje, depois que terminamos de limpar as gaiolas, meus irmãos foram para dentro de casa e eu fiquei ali debaixo da coberta sentado no chão e olhando os passarinhos.
Fiquei pesando que os passarinhos quisessem dar uma volta voando no nosso bairro. Então, fiquei de pé em frente às gaiolas e disse para os passarinhos que eu ia deixar eles voarem pelo nosso bairro, mas eles tinham que voltar antes que meu pai chegue para almoçar, as onze horas.

Fui de gaiola em gaiola e abri todas as portas. A maioria dos passarinhos saiu voando, mas alguns parecem que não achavam a porta da gaiola. Com dificuldades tirei todos que não tinham saído ainda. Sentei no chão e fiquei brincando com o posto de gasolina. Posto de gasolina eh um brinquedo que ganhei no natal. Tem o posto e alguns carrinhos para a gente brincar de abastecer. Estava brincando já a um bom tempo quando minha mãe me chamou para almoçar.
Os passarinhos não tinham voltado ainda. Fui para debaixo da mesa e pouco depois meu pai chegou. Minha mãe fez o prato do meu pai e dos meus irmãos, o meu eh sempre o último. Ela começa sempre pelos mais velhos. Meu pai terminou de almoçar e eu estava só começando. Sempre depois que meu pai almoça, ele vai ver os passarinhos.

Ele foi até a coberta. De lá ele gritou perguntando o que tinha acontecido ali. Meus irmãos e minha mãe saíram para o terreiro para saber o que estava acontecendo. Eu larguei meu prato debaixo da mesa e saí correndo e me escondi debaixo da cama do meu irmão. Quando meus irmãos viram as gaiolas abertas já disseram: foi o Bolinha, ele ficou a manhã toda aqui.
Meu pai saiu a minha procura dizendo: eu vou matar esse menino.
Minha mãe tentava acalmar meu pai, mas ele estava furioso e entrou em casa gritando meu nome dizendo que ia me matar. Um dos meus irmãos disse para meu pai que eu estava debaixo da cama. Meu pai me puxou pelo braço, arrancou minha camisa com facilidade, porque nossas camisas geralmente não tem botão e quando tem eh um só, mas está sempre desabotoado, e me levou até o terreiro e de frente para as gaiolas me perguntou o que tinha acontecido.


Eu tremendo de medo disse que o pai dos passarinhos foi até lá e disse que queria os filhos dele de volta, então eu abri as portas para eles saírem. Meus irmãos caíram na gargalhada e ficaram dizendo que eu era maluco mesmo.
Meu pai, me segurando pelo braço, arrancou um galho da árvore que tem no nosso terreiro e começou a me bater. Não importava onde desse as varadas. Me acertou várias vezes nas costas, nas pernas e no rosto. Minha mãe tentava impedir dele me bater, mas ele não parava. Quando ele soltou meu braço, cai no chão e fui protegendo o rosto com as mãos porque meu pai chuta a gente quando está batendo na gente e caímos no chão.


Ele então começou a me chutar. Não importa onde pegasse o chute. Chutou minha barriga, minha bunda, as minhas costas e quando ele acertou meu rosto acertou também minha mão.
Começou a sair sangue em minha boca e na minha testa. Minha mãe conseguiu fazer ele parar de me bater ficando entre ele e eu. Eu sempre evito chorar quando meu pai me bate, porque meus tios sempre dizem que homem de verdade não chora, mas desta vez eu não consegui e chorei muito. Meu irmão me pegou no chão e me levou para dentro de casa.
Eu ainda chorava enquanto minha mãe passava remédio nas marcas das varadas nas costas, no rosto e nas pernas. Minha mão ficou inchada e meu rosto também devido ao chute que levei.
Depois que minha mãe passou remédio nas feridas fui para minha cama debaixo da mesa ainda chorando e acabei dormindo.

Não saio de casa nem para ir à escola, tenho vergonha das pessoas verem as marcas no meu rosto. Minha mãe disse que eu não preciso ir até melhorar. Quando algum dos amigos dos meus irmãos vem aqui em casa, fico deitado debaixo da mesa e coberto até a cabeça para que não vejam meu rosto. Meu pai chegou do serviço a tarde foi até a coberta e quebrou todas as gaiolas. E nunca mais criou passarinhos.

Fonte dos textos e fotos: Thymonthy Becker / Internet 




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